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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sobre a Carta dos Cardeais no Sínodo, em defesa da família e da Igreja

16 outubro, 2015

Os bastidores da carta explosiva dos Cardeais.

E o que acontecerá agora com o Sínodo da Igreja. 
Por Antonio Socci, Libero, 14 de outubro de 2015 | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com – A carta dos cardeais ao papa contra o amordaçamento do Sínodo e contra as teses dos modernistas bergoglianos é um fato explosivo, mesmo por causa da autoridade das assinaturas. Mas o que aconteceu em seguida, para tentar desacreditar e jogar na sombra o seu conteúdo explosivo, deve ser recontado.
Antes de tudo, tentaram fazer com que a carta fosse vista como o sintoma de um clima de conspiração por parte dos chamados “conservadores” ou católicos.
Marco Tosatti, correspondente do Vaticano sério e independente, justamente observou que uma carta privada ao papa, assinada com os nomes completos, é a coisa mais transparente, leal e corajosa que se pode ver nesses últimos tempos no Vaticano (considerando que o próprio Bergoglio – em suas palavras — pede franqueza).
Ou seja, é o exato oposto de uma conspiração. Mas — como diz Tosatti — “ele forneceu uma oportunidade de ouro para os seus muitos bajuladores gritarem “afronta e complô”.
Enquanto vamos tomando conhecimento – através do jornal alemão Tagespost — que, se tem alguma coisa que diz respeito a coisas escondidas, trata-se do próprio fato do Papa Bergoglio realizar em Santa Marta um “Sínodo paralelo” e reservado para manipular o Sínodo oficial.
O elemento que desencadeou a confusão foi o desmentido por parte de quatro dos treze cardeais signatários. Mas o que aconteceu?
O MISTÉRIO DOS NOMES
O Cardeal Pell, um dos signatários, segunda-feira à noite, através de um porta-voz, confirmou que a carta foi assinada por ele e outros cardeais, e ainda acrescentou que era uma carta privada que não foi divulgada por parte de nenhum deles. Além disso também explicou que no texto da carta tornada pública por Magister há “erros tanto de conteúdo como na lista de signatários.”
Segunda-feira à noite, ficamos sabendo então, que a revista dos jesuítas dos Estados Unidos, “América”, de orientação progressista, confirmou que a carta foi realmente assinada por treze cardeais, todos eles padres sinodais, e ainda fornece uma lista com quatro novos nomes, justamente os nomes corretos, ao invés dos quatro nomes errados os quais haviam negado a participação. Assim, a revista dos jesuítas confirma o texto publicado por Magister e o mesmo faz o jornal “La Nación” de Buenos Aires com um artigo de Elizabeth Piqué, que é a biógrafa pessoal e amiga do Papa Bergoglio e que tem acesso a fontes muito confiáveis.
Ontem à noite, portanto, Magister assinou um novo artigo onde — citando essas confirmações de peso — reitera que são treze os cardeais signatários (reconstrói a lista correta, mas parece que um foi removido) e o texto é aquele mesmo publicado por ele, ainda que na carta entregue ao papa possa haver alguma variação mínima. “De forma, mas não de substância”.
A NOTÍCIA
Com o alarido que se levantou na mídia, acabamos por perder de vista o essencial: o caráter excepcional de um documento assinado por cardeais influentes, representando muitos Padres sinodais, com o qual se destrói o Instrumentum laboris (aquele mesmo onde Bergoglio havia inserido pontos que não tinham sido aprovados pelo Sínodo de 2014 e que eram os mais controversos).
Na Carta dos Cardeais, em seguida, são criticados os novos procedimentos que amordaçam (e tentam manipular) o Sínodo em curso e se expressa preocupação porque a Comissão que deverá escrever a “Relatio” final não foi eleita pelos padres, mas nomeada inteiramente por Bergoglio (todos pessoas de seu gosto pessoal).
Além disso, a carta expressa sua preocupação com um sínodo que tinha sido convocado por Bento XVI para a defesa da família e que depois acabou se embaralhando com comunhão para divorciados recasados e que, se fosse aceita, iria pôr em colapso toda a doutrina do matrimônio e dos demais sacramentos.
No final da carta há um lembrete dramático que – embora com linguagem respeitosa – soa o alarme, dizendo que, no final da estrada tomada por Bergoglio, à imitação das igrejas protestantes da Europa, há o “colapso” ou seja, o fim a Igreja.
MAIORIA CATÓLICA
O Cardeal Pell, na declaração de anteontem, deu outras duas notícias importantes sobre o que está acontecendo. A primeira corresponde exatamente ao que, no último domingo, escrevíamos nesta coluna, ou seja, que a linha adotada pela dobradinha Kasper/Bergoglio é a minoria.
De fato, Pell diz: “Há um consenso generalizado sobre a maioria dos pontos, mas, obviamente, há alguma discordância porque uma minoria de elementos quer mudar o ensinamento da Igreja sobre as disposições necessárias para a recepção da Comunhão. Naturalmente, não existe uma possibilidade de mudança da doutrina”.
A outra notícia dada por Pell, ainda que em linguagem sutil, é esta: “persistem as preocupações dos Padres Sinodais relativas à composição do conselho de redação do relatório final e sobre o processo através do qual será apresentado aos Padres sinodais e votado.”
A polêmica agora gira em torno de tudo isso. A razão é simples, ainda que nunca dita. A intenção que agora se torna clara, é que Bergoglio está empurrando o Sínodo para as conclusões que ele quer, visando obter legitimidade para introduzir na Igreja as idéias de Kasper, ainda que de forma camuflada, como o divórcio introduzido com o Motu Proprio.
Para isto, Bergoglio, nos últimos dias – ao  descobrir que o Sínodo permanece com maioria católica — incrivelmente colocou em dúvida [a elaboração d]o “Relatório Final”, que também foi previsto em todos os programas oficiais, como resultado do Sínodo.
Dada a confusão que causou a mudança das regras do Sínodo em curso, anteontem, através do Padre Lombardi, declarou que o “Relatório Final” vai sair, mas será o próprio Bergoglio que vai decidir o que fazer e se será publicado.
Mais tarde ficamos sabendo que não será uma “Relatio” semelhante ao dos outros sínodos onde se votam proposições individuais, mas um texto vago para ser votado em bloco, no estilo pegar ou largar.
Ou seja, um modo de colocar a parte católica contra o muro, fazendo uma referência genérica à “misericórdia”, que, em seguida, poderia ser interpretada como um sinal verde para a “revolução”.
O PAPA NÃO É DEUS
Na realidade, seria necessário recordar que — a menos que se queira cair em heresia e assim decadência — nenhum papa tem o poder de derrubar a Lei de Deus e a Doutrina Católica.
Antes, como já foi explicado por um cardeal de peso para o Sínodo de 2014, essas questões sobre as quais hoje estão discutindo – já foram solenemente definidas pela Igreja, com base na Sagrada Escritura – e não poderiam e nem deveriam sequer ser colocadas em discussão.
Porque – ao contrário do que muitos acreditam – o Papa não pode fazer o que ele quer. Como disse Bento XVI na homilia da missa inaugural como Bispo de Roma na Basílica de São João de Latrão:
“O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo. (…) O Papa tem a consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande comunidade da fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está a serviço da Palavra de Deus, e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas”.
Esta é a interpretação correta do “poder de ligar e desligar” que Cristo deu a Pedro, versículo do Evangelho que nos últimos dias tem sido indevidamente invocado pelo partido bergogliano, quase como para dizer que ao papa argentino é permitido fazer o que ele quiser.
O Venerável Pio Brunone Lanteri, que era um grande defensor do papado, explicou claramente em seu livro: “Mas me dirá que o Santo Padre pode tudo, ‘solveris quodcumque, quodcumque ligaveris etc.” É verdade, mas não pode nada contra a constituição divina da Igreja. Ele é o vigário de Deus, mas não é Deus, nem pode destruir a obra de Deus”.
Publicado no Líbero, 14 de outubro de 2015

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