Nos periódicos italianos já há uma unanimidade entre os vaticanistas contra Bergóglio: Francisco é, de longe, o pontífice mais absolutista da história
01.10.2015 -
Francisco é, de longe, o pontífice mais absolutista da
história. Há neste pontificado de Francisco muitas características
interessantes, ainda que tristes, que nos remetem ao jogo político
bolivariano apresentado pelas lideranças seculares na América Latina.
Este pontificado se apresentou como a grande reinvenção da
misericórdia, como se a Igreja não fosse misericordiosa nos dois mil
anos precedentes, do amor aos pobres e da simplicidade absoluta. Toda
essa imagem foi construída de forma propagandística, também através da
pena de jornalistas de esquerda e do martelo ideológico de alguns
padrecos e bispos saudosistas da Teologia da Libertação, mas sobretudo
através do engenho pessoal de Bergoglio. Como não pensar na
imagem de Chavez, Mujica ou Lula, é claro, igualmente manipuladas pela
mídia que fez de cada mandatário um novo “pai dos pobres”, um messias
político que promete o paraíso na Terra.
Mas da mesma forma como sabemos que Mujica, Kirschner, Morales, Maduro,
Lula ou Dilma não estão ou mesmo nunca estiveram preocupados com o bem
estar da sociedade ou dos mais pobres, mas apenas desejam transformar a
sociedade para instalar por essas plagas um projeto hegemônico de poder,
unipartidário e inquestionável, Francisco está francamente comprometido
com a transformação da Igreja.
A mídia de nariz sujo da América Latina ainda incensa o pontífice,
pintando o Papa argentino como um construtor de pontes (daí vem a
palavra “pontífice”) não mais entre o céu e a Terra, mas entre os
desejos sociais e a estrutura da Igreja; o Corpo Místico de Cristo se
foi restando apenas a “estrutura” e esta pode e deve ser modificada. Mas
há outra mídia, mais comprometida com a verdade dos fatos e que se
localiza habitualmente nos países desenvolvidos, que vem torcendo o
nariz para Bergoglio. Nos periódicos italianos já há uma unanimidade
entre os vaticanistas contra Bergoglio. Não se trata de uma oposição
pela oposição, como diria Marina Silva, mas de uma resistência aos
métodos nada santos empregados pelo Papa para mudar aquilo que não pode
ser mudado – a doutrina da Igreja.
Blogs que antes tentavam construir um caminho de unidade entre
Bergoglio e os papas anteriores desistiram da empreitada. O mais famoso
deles, o blog do Pe. Z., até cunhou uma frase de impacto: “lendo
Francisco através de Bento (XVI)”. Já faz algum tempo que o Pe. Z.
removeu o banner com a frase.
Nos acostumamos com o conceito de “hermenêutica da continuidade”
apresentado por Bento XVI e esperávamos que Bergoglio, por mais
diferente que pudesse ser de Ratzinger, seguisse por essa via. Não
seguiu. Pelo contrário, Francisco se torna cada dia mais um exemplo vivo
daquela descontinuidade, da desconstrução das certezas dogmáticas e da
“bagunça”, uma verdadeira ruptura agressiva.
O Papa-Sol
Francisco é, de longe, o pontífice mais absolutista da história.
Seus discursos iniciais estavam marcados por um forte apelo à
colegialidade, ao modo sinodal de governar a Igreja. Eram discursos
verdadeiramente revolucionários, mas que tinham uma base elementar no
Vaticano II. Contudo, Francisco tem uma ideia muito peculiar sobre como
conciliar o modelo sinodal com a potestade pontifícia: os padres
sinodais só têm voz se esta for um eco da própria voz de Bergoglio.
Francisco procurou, através do último Sínodo dos Bispos em Roma, ter a
sua agenda de revolução doutrinal endossada pelos padres sinodais. Para
isso, de forma muito articulada, colocou o cardeal Kasper para
introduzir o tom da discussão – a comunhão aos divorciados em segunda
união. Kasper atuou como um verdadeiro boi de piranha, atraindo para si
as críticas e mostrando para Francisco quem eram os críticos.
Vários cardeais se levantaram contra o “teorema Kasper”. Artigos em
jornais e revistas foram publicados, livros escritos. Cardeais
conservadores expressavam seu desprazer com a ideia, amplamente
divulgada, que a Igreja modificaria sua doutrina.
Francisco então tentou organizar o Sínodo de forma a neutralizar
opositores, dispondo peões como num elaborado jogo de xadrez. Entra em
cena o segundo “boi de piranha” do Papa, o cardeal Baldisseri. Como
secretário do Sínodo, junto com o arcebispo progressista Bruno Forte,
Baldisseri cria um ambiente de completa censura aos dissidentes,
ocultando pronunciamentos, manipulando a tribuna e entregando um
“relatio” completamente inédito. A revolta dos padres sinodais,
sobretudo os da África e Ásia, foi evidente e permitiu que a crise se
tornasse pública. Vários jornais falaram numa derrota de Francisco e
deram espaço ao questionamento das até então incríveis capacidades
gerenciais do papa jesuíta.
No discurso de encerramento do Sínodo, Francisco, o “Papa-Sol”, lembrou
a todos os presentes que, neste pontificado, “A Igreja sou eu”. Citou
de forma clara o cânone 749 no qual se afirma que o Papa é “Pastor e
Doutor supremo de todos os fiéis” e goza “da potestade ordinária, que é
suprema, plena, imediata e universal na Igreja” (cf. cânn. 331-334).
Para bom entendedor, meia palavra basta, e o recado foi dado!
A Defenestração de Burke
Um líder da oposição dentro do Sínodo, embora rejeite categoricamente
este rótulo, o cardeal americano Raymond Burke, então prefeito da
Signatura Apostólica, foi a primeira vítima dos ajustes do pós-sínodo.
O tema do sínodo era (é) a família e questões de ordem canônica foram
(serão) discutidas. Mas o prefeito da mais alta côrte da Igreja, o chefe
do Direito Canônico, só participou do Sínodo “ex-oficio”, ou seja, uma
participação automática. O cardeal Burke não foi convidado pessoalmente
pelo Papa, nem mesmo ocupou alguma posição de liderança oficial na
estrutura do Sínodo, como era de se esperar.
Burke foi nomeado, depois de muita especulação, como Soberano da Ordem
Militar de Malta, cargo honorífico e reservado aos cardeais aposentados.
Burke, com 66 anos, está bem longe da aposentadoria.
Mas Francisco foi muito inteligente ao fazer o Sínodo para a Família em
duas etapas. Burke, a grande figura conservadora, está fora da segunda
assembleia do sínodo que se reunirá em outubro de 2015. Com absoluta
certeza outros cardeais opositores estarão igualmente fora do embate
final. Francisco não esquece, Francisco não perdoa!
Humilhação aos EUA
Com a saída de Burke a Cúria Romana perde o único prelado
norte-americano num cargo de chefia. A Igreja dos EUA é poderosa e
influente, sempre contando com algum bispo ou cardeal num alto posto da
administração eclesial. Com Francisco isso parece não ser o caso.
Basta lembrar que no último consistório para a criação de novos
cardeais, Francisco ignorou os EUA completamente. Pela primeira vez em
mais de cem anos os EUA estavam fora do consistório.
Francisco também nomeou para Chicago, sede do arcebispo mais influente
dos EUA e um nome profundamente ligado a João Paulo II e Bento XVI,
Francis George, um prelado de segunda linha, sem expressão nacional, mas
afinado com a “misericórdia” de Francisco e um “yes man”.
A elevação de padres e bispos do segundo ou mesmo do terceiro escalão à
posições proeminentes parece ser a marca deste pontificado. Começou na
Cúria, com a nomeação relâmpago de Stella como substituto de Piacenza e
agora se espalha para as dioceses do mundo. Talvez – e aqui é uma teoria
pessoal – a elevação prelados medíocres em detrimento de outros mais
bem preparados é uma estratégia de longo prazo para que as reformas
bergoglianas passem com facilidade até as estruturas mais fundamentais
da Igreja – as paróquias e capelas. Foi dessa forma que Bergoglio
modelou a Igreja na Argentina, com bispos mal formados e pouco
habituados à defesa da doutrina, e está ai o resultado...
O que sabemos, entretanto, é que João Paulo II e Bento XVI deixaram os
EUA com bispos muito conservadores e, graças a Deus, jovens. As grandes
lideranças dos EUA, na sua maioria, são relativamente jovens – Samuel
Aquila (64), William E. Lori (63), José Gomez (62), Thomas Wenski (64),
Alexander Sample (54), James Sartain (62), Salvatore J. Cordileone (58) e
até mesmo o cardeal Dolan (64), embora este último esteja bem longe de
ser um tradicionalista ou mesmo conservador, ele levantou duras objeções
durante o Sínodo. Ou seja, será muito difícil para Francisco modificar
muito rapidamente a linha conservadora dos EUA. É claro que o “Papa-sol”
poderá criar uma infinidade de cargos honoríficos ou despachar uma
dezena de “visitas fraternas” aos arcebispos americanos para, de forma
arbitrária e humilhante, se livrar deles... afinal “A Igreja é
Francisco”.
Do ponto de vista meramente político, negligenciar a Igreja
norte-americana é um erro estratégico grave que pode trazer ainda mais
problemas ao Papa, ou mesmo a antecipação da sua renúncia.
E o que vem por ai...
É muito difícil e arriscado prever o futuro. Podemos traçar linhas conjecturais, podemos especular somente.
Esperamos para antes do próximo Sínodo uma reformulação mais acelerada
na Cúria. Nomes de influência já se foram, com a remoção de Cañizares do
Culto Divino e agora de Burke da Signatura Apostólica. Os únicos
prelados “com luz própria” são Müller, da Doutrina da Fé, e Pell das
Finanças Vaticanas. Ambos se colocaram como opositores da trinca
Kasper-Baldisseri-Francisco no sínodo.
Faço apenas algumas especulações:
Maradiaga, o vice-papa, poderia ser nomeado para algum cargo na Cúria
Romana. Francisco precisa de um nome forte em Roma, porém inteiramente
devotado ao projeto bergogliano, e na face desta Terra não há ninguém
mais fiel ao processo revolucionário de Bergoglio que o cardeal
arcebispo de Tegucigalpa Oscar Maradiaga.
Francisco precisa, ainda, lidar com a oposição na própria Itália. Para
tanto, a substituição de Caffara (76), arcebispo de Bolonha e um dos
autores do livro que criticava as propostas de Kasper, é importantíssima
e estratégica. Recentemente Francisco fez algumas alterações na
legislação da renúncia dos prelados com mais de 75 anos, obrigando-os a
apresentar ao Papa sua demissão. É possível que Galantino, o bispo que
não gosta que católicos rezem em clínicas de aborto, suba até o
arcebispado de Bolonha.
Posso estar enganado, mas não acredito que Piero Marini será o próximo
prefeito do Culto Divino. Seria um problema a mais na já conturbada
agenda de Francisco e o ex-cerimoniário e ex-secretário de Annibale
Bugnini já conta com 72 anos. É possível que um nome totalmente
inesperado e mais jovem, alçado do segundo escalão, assuma a
Congregação. Porém será um nome Bugniniano e crítico da missa antiga e
do Motu Proprio. Disso não tenho dúvida!
Conclusão
O importante é que todos acordaram para este pontificado. Estão
vendo um processo claro de desconstrução da Igreja através das mãos do
Papa Francisco. Até mesmo jornais católicos, redes de TV católicas (nos
EUA, é claro...) percebem que há algo errado com este pontificado.
O Papa Montini permitiu que seu pontificado fosse sequestrado por
progressistas, sendo ele mesmo simpático a muitas, mas não todas, das
suas ideias revolucionárias. Paulo VI pecou pela falta de decisão, por
ser o “papa Hamletiano” e por confiar e dar poderes demais aos seus
colaboradores. Francisco é justamente o oposto – todas as decisões
partem dele, e ele não confia em ninguém além de si mesmo. Francisco não
tem colaboradores, tem executores.
Paulo VI foi o papa sem personalidade enquanto Francisco é o papa mais personalista que existe.
Fonte: http://maedasalvacao.blogspot.com.br - enviado por Vitor Lima
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