13 outubro, 2015
Terá a intervenção do Papa Francisco reconduzido o Sínodo à sua trajetória heterodoxa?
Por Voice of the Family, 7 de outubro de 2015 | Tradução: FratresInUnum.com
– O Sínodo Ordinário sobre a família esteve ontem (6 de outubro) muito
mais perto de um repúdio dos ensinamentos da Igreja Católica sobre a
sexualidade humana. As esperanças dos fiéis católicos aumentaram na
segunda-feira (5), com a reafirmação da ortodoxia Católica feita na relazione introduttiva
do Relator Geral do Sínodo, Cardeal Péter Erdö, Arcebispo de
Esztergom-Budapeste. Ontem, o relatório e a posição de Erdö foram
seriamente minados depois que uma intervenção do Papa Francisco indicou
aos padres sinodais que a questão da comunhão para os “divorciados e
recasados” ainda estava em aberto. O Cardeal Erdö também foi minado por
observações feitas por padres sinodais convidados a uma coletiva de
imprensa organizada pelo porta-voz da Santa Sé, o padre Lombardi.
A relazione introduttiva do Cardeal Erdö
Em seu relatório inicial, apresentado na
segunda pela manhã, o Cardeal Erdö defendeu a doutrina católica,
perpassando todo o espectro de ensinamentos relacionados à sexualidade
humana. O Relator Geral decididamente rejeitou a proposta do Cardeal
Kasper sobre a admissão à Sagrada Comunhão daqueles que vivem em
adultério público e claramente reafirmou o ensinamento Católico sobre
questões como o homossexualismo, a indissolubilidade do casamento e a
contracepção. Ele também repudiou o falso entendimento de misericórdia, o
qual tem sido cada vez mais prevalente no período anterior ao Sínodo.
“Misericórdia”, disse o Cardeal, “exige conversão”. A análise mais completa do relatório de Erdö pode ser encontrada aqui.
Cardeal Erdö e Arcebispo Forte adotam abordagens divergentes na coletiva de imprensa
A defesa do Cardeal Erdö do ensinamento
Católico continuou na coletiva de imprensa ocorrida na Sala de Imprensa
da Santa Sé na segunda-feira de manhã. Também presentes na conferência
estavam o Arcebispo Bruno Forte, Secretário Especial do Sínodo e o
Cardeal Vingt-Trois, Arcebispo de Paris.
Jornalistas pediram que o Cardeal Erdö
comentasse o seu relatório no que toca a recepção da Santa Comunhão por
“divorciados e recasados”. Como resposta, ele defendeu a sua decisão de
manter a doutrina Católica e enfatizou que, longe de ser ilimitado, o
desenvolvimento doutrinal só pode se dar em consonância com a tradição.
Ele também rejeitou a sugestão de que haveria uma alternativa Ortodoxa
Oriental para a doutrina e disciplina Católica, chamando atenção para as
divisões que existem dentro da Igreja Ortodoxa. Mais aguda foi, talvez,
a sua observação de que a leitura do Evangelho no dia da abertura do
Sínodo foi, coincidentemente, a doutrina de Nosso Senhor sobre a
indissolubilidade do casamento, tal como é registrado no Evangelho de
São Lucas.
O Arcebispo Forte, conhecido por ter elaborado passagens heterodoxas sobre homossexualidade na relatio post disceptationem do ano passado,
respondeu ao Cardeal Erdö na primeira oportunidade. Ignorou uma questão
a ele colocada por um jornalista, a respeito de famílias numerosas, e
voltou à discussão sobre a Santa Comunhão para “divorciados e
recasados”.
Forte enfatizou que o Sínodo era um
“sínodo pastoral”, voltado para o “cuidado pastoral”. Que havia uma
necessidade de encontrar “novas formas de abordar os desafios
pastorais”, porque “os tempos mudam, as situações mudam”. Ele disse que
“desafios pastorais estão aí e devemos encará-los”. (A tradução das
observações do Arcebispo Forte é tirada de uma tradução simultânea
fornecida pela Sala de Imprensa da Santa Sé).
As colocações de Forte encaixam-se na narrativa buscada por prelados dissidentes no Sínodo. O seu modus operandi
é insistir que a doutrina da Igreja permanecerá intocada, mas a prática
pastoral irá mudar. Na realidade, as assim chamadas mudanças pastorais
que eles propõem, tais como a readmissão de adúlteros não-arrependidos à
Santa Comunhão, de fato, contradizem a doutrina Católica.
A intervenção do Papa Francisco
O Papa Francisco realizou uma intervenção
não programada no Sínodo ontem (6) pela manhã. Ele instruiu os padres
sinodais que eles deveriam considerar o Sínodo Ordinário como estando em
perfeita continuidade com o Sínodo Extraordinário. Disse a eles que
deveriam considerar somente três documentos sinodais como documentos
formais do Sínodo, sendo eles: o seu próprio discurso de abertura do
Sínodo Extraordinário, a Relatio Synodi do Sínodo
Extraordinário e o seu próprio discurso de encerramento daquele Sínodo. A
natureza heterodoxa da Relatio Synodi, que recebeu aprovação pessoal do
Santo Padre, foi discutida pelo Voice of the Family na nossa Análise do Relatório Final do Sínodo Extraordinário.
O Santo Padre também disse que a questão da recepção da Santa Comunhão
por “divorciados e recasados” não era a única que o Sínodo deveria
considerar. Isso indica, contudo, que o Papa Francisco considera a
questão aberta, apesar de estar claramente resolvida pela Sagrada
Escritura, pela Sagrada Tradição e o ensinamento de seus predecessores. O
conteúdo da intervenção do Santo Padre foi repetido diversas vezes pelo
Padre Lombardi e outros participantes na coletiva de imprensa.
A intervenção do Santo Padre ontem minou a
autoridade do relatório do Cardeal Erdö e assinalou aos padres sinodais
que o Santo Padre prefere que as discussões do Sínodo se dêem de acordo
com as linhas estabelecidas pela heterodoxa Relatio Synodi, ao invés do
que o ortodoxo discurso introdutório do Cardeal Erdö. As ações do Santo
Padre enfraqueceram gravemente os esforços para reorientar o Sínodo
Ordinário em direção a uma afirmação e defesa da doutrina Católica.
Dois Arcebispos minam o relatório do Cardeal Erdö e se recusam a afirmar a fé Católica
Numa coletiva de imprensa dada na Sala de
Imprensa da Santa Sé ontem à tarde, o Arcebispo Claudio Maria Celli,
presidente do Conselho Pontifício para Comunicação Social, foi indagado
em que medida, após o relatório do Cardeal Erdö, a questão da Santa
Comunhão para “divorciados e recasados” estava fechada. Ao afirmar que
“a questão ainda está aberta”, o Arcebispo Celli não só minou o
testemunho do Cardeal Erdö mas, muito mais seriamente, repudiou o
ensinamento constante do magistério da Igreja.
Também participou da coletiva de imprensa
de ontem o Arcebispo Paul-André Durocher, Arcebispo de Gatineau
(Canadá). A Durocher foi perguntado se poderia ser dito, agora, que a
questão da recepção da Santa Comunhão por “divorciados e recasados” deve
ser considerada matéria de “prática pastoral” ao invés de “doutrina”. O
Arcebispo Durocher recusou-se a usar a oportunidade para afirmar o
ensinamento da Igreja; ao invés disso, ele simplesmente disse que os
padres sinodais têm pontos de vista diferentes sobre esse ponto.
O Padre Rosica e seu sumário da revolução “progressista” contra a doutrina Católica.
Na coletiva de imprensa de ontem, o pe.
Thomas Rosica, porta-voz de língua inglesa para a Santa Sé, deu o que
descreveu como um sumário das intervenções dos padres sinodais. As
intervenções, de acordo com o que resumiu o Pe. Rosica, foram quase
uniformemente “progressistas”.
O resumo do pe. Rosica enfatizou a
necessidade de “um fim da linguagem exclusionista” e a necessidade de
“aceitar a realidade como ela é” e não “ter medo de situações novas e
complexas”. Foi relatado que um padre do Sínodo disse que “no cuidado
pastoral das pessoas, a linguagem da inclusão deve ser a nossa
linguagem, sempre considerando possibilidades e soluções pastorais e
canônicas”. Rosica fez referência a intervenções pedindo por uma “nova
catequese para o casamento”, uma “nova linguagem para falar às pessoas
do nosso tempo”, uma nova abordagem da homossexualidade, que não mais
desse a impressão que os católicos sentem “pena” dos homossexuais.
Rosica também chamou atenção para um chamado para estender a prática da
absolvição geral do Ano da Misericórdia e por um questionamento tal
como: “há novos modos de usar o diaconato permanente, e aqueles que são
diáconos permanentes, como verdadeiros ministros da misericórdia?” Outra
intervenção perguntou “somos nós os mestres da mesa da Eucaristia ou os
servos dessa mesa, acolhendo as pessoas a ela?”
Um dos aspectos mais perturbadores do
resumo de Rosica foi a sugestão que a questão da Santa Comunhão para
“divorciados e recasados” poderia ser resolvida de maneiras diferentes
em partes diferentes do mundo. Isso levaria a práticas diferentes e,
portanto, a doutrinas diferentes em diferentes partes da Igreja. Tal
divisão é, evidentemente, inseparável de um cisma.
Conclusões
O relatório de abertura do Relator Geral,
Cardeal Erdö, suscitou esperanças de que seria possível o Sínodo ser
reorientado à direção ortodoxa, apesar do heterodoxo Instrumentum Laboris, o
qual serve como sua agenda. A corrosão do relatório do Cardeal Erdö
pela intervenção do Papa Francisco parece recolocar o Sínodo na direção
heterodoxa. Se a Relatio Synodi e o Instrumentum Laboris
continuam a ser a base para o trabalho do Sínodo Ordinário, então os
responsáveis pelo Sínodo – e aqueles que o seguem – continuarão na
trajetória em direção a um repúdio formal da doutrina da Igreja
Católica.
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