12 novembro, 2015
Para que servem as roupas?
(o hábito não faz o monge, mas a casca protege o fruto)
Por Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz – Pró Vida Anápolis
A feminista brasileira
Sara Winter, conhecida por sua militância pró-aborto, após ter dado à
luz, publicou em 14/10/2015 na sua página do Facebook um texto com o
título “Eu me arrependi de ter abortado e hoje peço perdão”. Eis um
trecho do que ela escreveu:
Amanhã faz um mês que meu
bebe nasceu e minha vida ganhou um novo sentido. Estou escrevendo isso
enquanto ele dorme sereno no meu colo. É a melhor sensação do mundo.
Eu ensaiei este texto
milhares de vezes durante meses na minha mente e talvez ele não saia tão
brilhante como eu gostaria que saísse, mas o mais importante que
gostaria de que chegasse a vocês é que, por favor, mulheres que
estão desesperadas para abortar, pensem muito, eu me arrependi muito,
não quero o mesmo destino pra vocês[1].
Além disso, Sara passou a
criticar a ideologia de gênero, tão cara às suas colegas feministas. Em
seu artigo “Meu filho é XY e sou muito feliz com isso”, de 17/10/2015,
ela diz:
Algumas pessoas têm comentado aqui na page sobre o que eu acho da Teoria de gênero.
Quero deixar claro que há mais de 1 ano eu mudei minha concepção de gênero.
Eu não acredito que uma
pessoa possa se identificar com um gênero e a partir de então pertencer a
ele. Ou seja, essa ladainha de “eu sou mulher porque me sinto mulher”,
eu não acredito e não apoio.
Pra mim mulher é quem nasce com vagina e homem é quem nasce com pênis.
[…]
Não se ‘vira’ mulher
quando se passa batom, coloca silicone e começa a falar fino. Ser mulher
é MUITO MAIS DO QUE ISSO. Assim, como duvido muito que uma mulher que
coloque roupas largas e corte o cabelo terá privilégio que homens tem,
como ganhar um salário 30% maior, tem mais segurança na rua…
Como se vê, ela admite
diferenças naturais entre os sexos e não aceita que tudo se reduza ao
modo de falar, de cortar o cabelo ou de se vestir. Curiosamente, ao
falar da diferença no vestuário, Sara não falou aquilo que
espontaneamente se falaria há algumas décadas, ou seja, que as mulheres
usam saias e os homens vestes calças. Hoje parece que essa diferença
deixou de existir. O que ela vê de diferente é que os homens usam
“roupas largas”, o que implica que as mulheres usam roupas justas ou
apertadas.
Qual a função das roupas?
“Ora, os dois estavam
nus, o homem e sua mulher, e não se envergonhavam” (Gn 2,25). Antes do
pecado original, Adão e Eva gozavam de um dom chamado integridade.
Por esse dom, os sentidos e os instintos estavam harmoniosamente
submissos à razão. A visão do corpo do outro, mesmo de seus órgãos
reprodutores, não era capaz de causar excitação, a menos que avontade consentisse segundo a reta razão. Por isso, não havia necessidade de se cobrir o corpo.
Sem dúvida os dois
praticariam o ato sexual (“os dois serão uma só carne”), mas só quando a
razão determinasse. E o instinto sexual estava perfeitamente submisso à
razão.
Depois do pecado original, a integridade
se perdeu. Adão e Eva “descobriram” que estavam nus e se envergonharam.
A partir daí, os instintos rebelaram-se violentamente contra a razão,
sobretudo o instinto sexual. A virtude da castidade – que é o controle
desse instinto – passou a exigir muita luta e vigilância. Foi necessário
cobrir o corpo.
Adão e Eva,
envergonhados, cingiram-se (cobriram a cintura) com folhas de figueira
(Gn 3,7). Deus, porém, não achou tal cobertura suficiente, e deu-lhes
túnicas de peles de animais, para que se vestissem (Gn 3,21).
Hoje, portanto, as roupas são necessárias para se conservar a castidade.
Qual é a função das roupas? Segundo São João Paulo II, as roupas cobrem o corpo para nos deixar ver os valores da alma:
A necessidade espontânea
de ocultar os valores sexuais vinculados à pessoa é o caminho natural
para revelar o valor da pessoa em si mesma[2].
De fato, se não
cobríssemos o corpo, o instinto carnal gritaria tanto, com sede de
prazer, que a razão ficaria obscurecida, incapaz de conhecer a alma.
A pureza exige o pudor.
Este é parte integrante da virtude da temperança. O pudor preserva a
intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve
ficar escondido (Catecismo da Igreja Católica, 2521).
A diversidade de roupas
masculina e feminina tem um fator cultural, mas não é um produto
exclusivo da cultura. Homens e mulheres têm corpos diferentes e essa
diferença natural influi sobre o modo de vestir que convém a cada sexo. A
mulher tem a pelve (bacia) mais larga e o osso sacro mais curto e mais
largo. O motivo dessa disposição óssea é abrigar o bebê durante a
gravidez. Daí a conveniência de que as roupas femininas sejam largas na
altura dos quadris. Por esse motivo, durante séculos consolidou-se o uso
de saias pelas mulheres. De fato, a saia adapta-se perfeitamente ao
corpo da mulher não apenas com decência, mas com uma particular
elegância.
[Desenho extraído de http://www.afh.bio.br/sustenta/sustenta1.asp]
Não se pode dizer o mesmo
da calça. Raramente se encontra uma calça suficientemente folgada para
ser decente em um corpo feminino. Hoje, com a generalização do uso da
calça jeans pelas mulheres, verifica-se o que foi observado por
Sara: enquanto os homens usam “roupas largas”, as mulheres, em sua
grande maioria, vestem calças tão apertadas, que põem em realce as coxas
e as nádegas. O costume de vestir-se imodestamente causou a perda do
senso do pudor.
Em 12 de junho de 1960, o
Cardeal de Gênova, Giuseppe Siri, escreveu uma “Notificação relativa às
mulheres que vestem roupas de homem”[3],
referindo-se ao recente uso de calças compridas por moças e senhoras de
sua Diocese. Dizia o Cardeal que esse tipo de roupa, geralmente colada
ao corpo, dava-lhe a mesma preocupação que as roupas que expõem o corpo.
Mas a imodéstia das calças não era o único problema para o Cardeal.
Mais grave que isso, o uso de roupas masculinas causava uma alteração da
psicologia da mulher, levando-a a querer “ser igual ao homem” e a
competir com ele, por considerá-lo mais forte, mais livre e mais
independente. Assim, ela via sua feminilidade como inferioridade, e não
como diversidade. Além disso, ao usar roupas iguais às do seu marido, a
mulher eliminava um dos sinais externos da diversidade dos sexos. E isso
tenderia a corromper as relações entre os sexos.
Parece que o Cardeal já
estava pressentindo como o uso de calças pelas mulheres favoreceria a
difusão da ideologia de gênero e seus postulados, em particular o da
anulação das diferenças sexuais.
Hoje assistimos a um
movimento semelhante, no sentido inverso: homens advogando o direito de
usar saias, a fim de libertar-se da “ditadura da calça”. Em 2008, o
jornal francêsLiberation noticiava a existência da Associação
Homens de Saia (Hommes en Jupe). Seu fundador, Dominique Moreau,
defendia a “emancipação masculina”, reivindicando o “direito de dispor
plenamente do próprio corpo, nos moldes da liberação feminina”[4].
[Dominique Moureau]
Tudo isso nos faz lembrar
o que dizia o saudoso Bispo de Anápolis Dom Manoel Pestana Filho: “O
feminismo trouxe, primeiro, a masculinização da mulher; depois, a
feminização do homem; por fim, a bestialização de ambos”.
Anápolis, 6 de novembro de 2015.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
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