A ideologia de gênero deve ser combatida.
Enquanto a CNBB não vai, não dá justificativa e não manda nenhum representante, o colunista de FratresInUnum.com, Prof. Hermes Rodrigues Nery, convidado pela Comissão de Educação da Câmara, compareceu!
E com muita honra publicamos, a seguir, a intervenção do caro Professor.
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Por Hermes Rodrigues Nery
Sr. Presidente, Deputado Givaldo Carimbão, deputados Diego Garcia, Flavinho e demais propositores e membros da mesa.
Agradeço pela oportunidade de participar desta importante audiência pública que a Comissão de Educação realiza na Câmara dos Deputados. Retorno, mais uma vez a esta Casa Legislativa para contribuir no debate sobre ideologia de gênero que esta Comissão promove, de uma questão que vem se tornando cada vez mais relevante, porque trata-se de uma agenda ideologicamente equivocada, a agenda de gênero, que o governo federal vem já há alguns anos tentando implementar, uma agenda que vem de fora, de Fundações e organismos internacionais, que fere a soberania nacional e interfere na liberdade dos brasileiros, por isso que esta Comissão tem o dever de tomar conhecimento do que realmente está motivando a implantação da ideologia de gênero nas escolas, qual o significado e as consequências disso, os perigos que ela representa e o porque da sociedade estar rechaçando-a com tanta veemência.
Na verdade o que está havendo é uma “perversão dos direitos humanos”1, perversão esta que desde o Relatório Kissinger, nos anos 70, se buscou “disfarçar as políticas de controle de natalidade sob a aparência de direitos humanos”2, através de uma ideologia que é a “mais radical da história”3, de falsas premissas filosóficas, a defender com obsessão a irrealidade, a argumentação ideológica de que “toda pessoa poderia construir livremente seu sexo psicológico ou gênero”4. O terrível caso dos irmãos Reimer comprovam científica e historicamente a falácia e o horror de tal ideologia. Tenho aqui o estudo científico do Prof. Massimo Gandolfini, “Genética e neurobiologia da diferença sexual”5, apresentado em Perugia (Itália), em Congressos sobre “Identidade de Gênero – aspectos sociais, médicos, bioéticos e jurídicos”, onde ele mostra claramente as diferenças e características do cérebro humano – do homem e da mulher, confirmando empiricamente que há sim, as distinções sexuais, homem e mulher, que há distinções muito específicas de identidade masculina e feminina, e que, de modo algum, é evidentíssimo, que estas distinções não são jamais construções sociais.
O fato é que os ideólogos dessa ignomínia oferecem primeiro “às pessoas a ilusão da autonomia absoluta em matéria sexual”6. Ilusão. “Depois disso, aqueles que detém o poder real são os que escolhem, como lhes convêm, o modo como os que carecem de poder poderão exercer a sexualidade”7 Uma ideologia, portanto, que é, sim, “uma ferramenta de poder”8, que visa a dissolução e subversão da própria identidade, com a alegação falaciosa de que “existiriam dois sexos, mas antes, muitas orientações sexuais”9; como uma nova perspectiva, com “o controle feminista da produção ideológica e cultural”10 a engendrar uma reengenharia social, com fins de manipulação e agrilhoamento da pessoa humana, em vários aspectos. “E como a meta final da revolução socialista era de eliminar não só os privilégios da classe econômica mas também a própria distinção entre classes econômicas, assim a meta da revolução feminista deve ser analogamente, diferentemente do primeiro movimento feminista, a eliminação não só do privilégio masculino, mas também da própria distinção entre os sexos”11. A ideologia de gênero, portanto, nesse sentido, visa suplantar a realidade da natureza, negando-a por uma obsessão utópica.
Esta “agenda de gênero vem de grupos ativistas, todos de certa formas inter-relacionados ou com interesses comuns, mas de alguma maneira distinguíveis: 1) controladores de população; 2) libertários sexuais; 3) ativistas dos direitos dos homossexuais; 4) os que apoiam o multiculturalismo ou promovem o politicamente correto; 5) os ambientalistas extremistas; 6) progressistas neomarxistas; 7) pós-modernistas ou desconstrucionistas. A agenda de gênero tem também o apoio de liberais influentes nos governos e de certas corporações multinacionais”12. Esta agenda de gênero é sustentada por organizações que “desfrutam de um retorno financeiro garantido e que se tornaram, no campo da sexualidade humana, uma fonte de lucro e um veículo da secularização planificada”13, e que o Estado favorece quando capitulado diante de tão vis interesses, que em nada dignificam, mas degradam a pessoa humana. “A pornografia, a droga, a prostituição, a contracepção e o aborto são indústrias organizadas”14[favorecidas todas elas pela ideologia de gênero], “cujo capital é posto a serviço de uma ideologia, que é contra a vida humana, a família e, frequentemente, contra a Igreja Católica. Os objetivos de tais indústrias são a destruição da família e a secularização, para alcançar os meios pelos quais se toleram alguma forma de depravação e violência sexual em relação às crianças. Estas forças operam secretamente no espírito da era pós-moderna. Publicamente, ao invés, o comportamento destas estruturas (mídia, organizações, resoluções tomadas em consequência de conferências nacionais e internacionais) é de forte recusa em relação a violência sexual contra as crianças, todavia, não é por acaso que este fenômeno, nas suas formas de depravação, está em contínuo aumento”.15 Por isso as crianças são as maiores vítimas dessa terrível ideologia, as que já estão expostas a situações de abusos decorrentes do que tal ideologia permite, são as que estão mais vulneráveis e, muitas vezes, as que não tem a quem recorrer, porque, no afã de destruir a família, o Estado acaba sendo o agente opressor da família, quando deveria ser o grande defensor daquela que é a primeira e principal instituição humana.
Como hoje, quando vemos uma guerra declarada contra a família, em que as forças da cultura da morte agem com mais convergência e uma ampla gama de recursos (inclusive públicos), para com mais ousadia e até insanidade, fazer a impostação de uma ideologia contrária à humanidade, ao que é verdadeiramente humano em cada pessoa.
Com esta agenda, o governo se volta contra o povo brasileiro, que não a aceita naturalmente, mas o governo ignora o que o povo pensa e sente a respeito, e quer praticar descaradamente a doutrinação marxista-liberal do feminismo radical nas escolas, sem levar em conta o direito dos pais em educar seus filhos, agindo contra portanto a autoridade dos pais, autoridade esta que a ideologia de gênero quer minar.
As crianças como alvo da agenda de gênero
Sabemos que, como diz Dorotas Kornas-Biela, “a batalha contra a família está entre as mais graves batalhas contra o cristianismo, em particular contra os católicos. As ideologias hostis à família a descrevem como um lugar de degradação, exploração e limitação das crianças (embora certas situações se verifiquem em um pequeno percentual de famílias) e fonte de pressão, de modo que limita a autoridade dos pais em relação à prole”16. Com isso, “afastar as crianças da influência dos pais, criar antagonismo nas relações recíprocas e diminuição dos menores com os adultos de fora da família, em vista de uma compensação afetiva. Neste caso, as crianças tornam-se uma presa mais fácil para satisfazerem as tendências patológicas dos adultos. Por outro lado, sustentarmodelos de relações ‘amigáveis’ entre adultos e crianças, recusando normas e a disciplina, contribui para levar um parceiro de relações sexuais, favorecendo a criação de relações com a criança às relações como um parceiro erótico”17. As crianças portanto, como dissemos, são o alvo desta agenda de gênero, e precisamos protege-las disso.
O governo da presidente Dilma Roussef, de modo mais intenso, está buscando impor esta agenda, sob todas as formas, e se utilizando de todos os meios, com afoiteza e celeridade cada vez maior, com a cumplicidade e apoio de muitas OnGs financiadas tanto pelo governo, quanto pelas Fundações internacionais, para a imposição da ideologia de gênero, que “falseia a linguagem, a ponto de o menos advertido, mesmo o intelectual, e antes de tudo a opinião comum da grande massa, já não perceber a perversidade que é aí insinuada”18. O fato é que, em meio a esta guerra cultural, as feministas não foram capazes da “modificação do modelo masculino”19, que elas se insurgiram com tanta virulência, nem atingir pela persuasão a maioria das pessoas, que sempre viu com muita desconfiança e desaprovação tais propostas, restritas apenas a uma “minoria sofisticada”20, a minoria anarcofeminista (aliada aos marxistas – pois Engels lançou as bases de união entre marxismo e feminismo), que tratou portanto de ocupar postos de decisões, em todos os campos da sociedade (na grande imprensa, nas universidades, nos parlamentos e instâncias judiciárias), para transgredir sem temeridade alguma e com volúpia incomensurável.
Uma das consequências da subversão da identidade sexual pela ideologia de gênero foi fomentar uma androginia artificial para combalir a virilidade alicerce dos valores civilizacionais, num ataque sem precedentes contra todo o vigor do que é natural e humano, comprometendo assim o vir-a-ser de cada pessoa, e a sua verdadeira felicidade. A ideologia de gênero faz resultar assim uma sociedade debilitada (como já vimos aonde foi implantada, em países desenvolvidos, que hoje buscam, em decorrência da ideologia de gênero, rever e repudiar tal ideologia, pois as instituições capitularam, tornando-se flácidas e incapazes de vigências morais, não fecundando mais valores vitais. Uma sociedade com tibiezas cada vez mais acentuadas. Por conta disso, viu-se esterilizada, em todos os aspectos, em crescente depressão e angústia, com patologias incontáveis (é só ver o exemplo dos países desenvolvidos), com aquela falta de sentido (de direção) que a leva a uma agudeza do absurdo, em muitos aspectos. E até mesmo o desejo falha, sem saber como se erguer em meio a uma impotência generalizada. É a essa falta de esbelteza que a ideologia de gênero, ao dessacralizar as relações humanas, quer privar as sociedades daquilo que outrora as fizeram civilizar o mundo.
“De um povo heroico, o brado retumbante”
Já no PNDH3, em 2009, no governo Lula, se dizia que todos os Ministérios e órgãos do governo estariam mobilizados para isso, para a implantação desta agenda antivida e antifamília, esforço este que seria não apenas uma política de governo, mas uma política de Estado, como no nazismo se desejou fazer. O III Reich também quis que sua política insana fosse duradoura, e soçobrou em apenas doze anos. No PNDH3 se disse também que caberia ao Ministério da Educação o protagonismo desta articulação, para enfiar goela abaixo estas pautas da agenda de gênero. Tudo isso num contexto de uma crise política e moral provocada pelo próprio governo, para criar um ambiente favorável ao seu projeto de poder totalitário, porque esta ideologia, juntamente com outras iniciativas do governo, quer conduzir o Brasil a um regime totalitário.
Sabemos que “as ideologias amiúde são fontes de totalitarismo. Elas imaginam que os direitos tem por fonte o poder do Estado e que é o Estado que concede à família seus direitos; elas tendem a ver na família, fundada sobre o matrimônio, um obstáculo. De modo concreto, as ideologias recusam reconhecer à família, o direito de educar, direito de que é arbitrariamente assumido e imposto pelo Estado. Tenta-se então subtrair as crianças e os jovens ao contexto familiar, enquanto são ‘educados’ em função daquilo que quer o poder”21, que entende imprimir-lhes seu próprio modelo, ao qual devem-se configurar. É a habitual tentação na qual caem sempre as várias formas de coletivismo”. Isso é totalitarismo. Por isso, na resistência a isso, cresce a importância do homeschooling (e menciono aqui também o importante trabalho da Escola Sem Partido, nesse sentido de erradicar a doutrinação ideológica nas escolas), assim como outras iniciativas que buscam evitar a subjugação das mentes ao comportamento decorrente de uma lavagem cerebral, que tal ideologia propicia, no afã de destruir a base familiar, suporte da pessoa humana.
Nesse sentido, cabe lembrar a advertência do Papa Leão XIII, de feliz memória: “Querer, pois, que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família, é um erro grave e funesto”22. Sempre foi assim, ao longo da História: no conflito entre natureza e cultura, vence a natureza, porque “não se pode alcançar a liberdade para além dos limites da própria natureza”23, e a cultura “deve responder adequadamente à natureza”24.
E mais:
No conflito entre família e o Estado, vence a família, como já havia demonstrado Sófocles, em Antígona e Creonte.
Por isso o povo está nas ruas, não apenas contra a corrupção que vergonhosamente chegou a níveis como nunca antes na história deste País, mas para se posicionar contra também a esta agenda de gênero inumana, que se volta contra o Brasil; daí, mais uma vez, estamos vendo vir das ruas, “de um povo heroico, o brado retumbante”25, alto e em bom som, dizendo não à ideologia de gênero. Assim fizeram os deputados nesta Casa de Leis, ao rechaçá-la de modo esplêndido, no Plano Nacional de Educação, e ainda mais recentemente, em inúmeras Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas, se manifestando com valentia e tenacidade, agregando cada vez mais apoiadores, principalmente nas redes sociais, para que todos possam ouvir este brado retumbante em defesa da vida e da família.
Muito obrigado.
Este foi o pronunciamento do Prof. Hermes Rodrigues Nery, Presidente da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família e Coordenador do Movimento Legislação e Vida, na Câmara dos Deputados, em audiência pública sobre a questão da ideologia de gênero nas escolas, realizada na Comissão de Educação, em 10 de novembro de 2015.
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