Dom Lourenço Fleichman: Do esgoto do mundo à Salvação de nossos filhos
01.09.2015 -
O que me leva a escrever hoje é a constatação, cada dia mais evidente,
da dificuldade que as famílias católicas têm para viver neste mundo
enlouquecido e transviado. O espetáculo que estamos assistindo, e que
não se limita ao carnaval, mas ao ano todo, e a todos os anos, é de
meter medo. Nossas famílias, nossas melhores famílias, não conseguem se
isentar deste mundo. Todos pactuam com práticas diversas de destruição
do que resta de decência e de família. Digo “família” porque já não há
mais nada de sociedade a ser preservado, já não temos mais o que
defender! Tudo está destruído. Mas talvez ainda possamos lutar dentro de
nossas famílias, ou dentro de nossos corações.
Ora, é justamente esta constatação da destruição de todas as realidades
sadias da antiga sociedade que explica a dificuldade das pessoas em
não se contaminar. Explico.
Dentro de uma sociedade em vias de corrupção, as pessoas teriam de sair
de casa tomando certos cuidados para não serem contaminadas: cuidados
com os outdoors, com as bancas de jornal, com o convívio no trabalho, e
até mesmo com os assaltos na rua. Dentro de suas casas, haveria
necessidade de lutar constantemente contra os programas de televisão,
tomar cuidado com o tipo de gibi ou de video-game que compra para os
filhos. Dentro de uma sociedade assim, indiferente a Deus e apóstata da
Santa Religião Católica, os pais de família teriam de trazer para seus
filhos um bom catecismo, uma Capela onde se celebre a Santa Missa
Tridentina, onde o catecismo fosse ensinado segundo a doutrina de sempre
da Igreja.
Mas não é numa sociedade em vias de decadência, que nós vivemos. E é
nesse ponto que se encontra o erro de tantos pais. Ao achar que a
questão é de grau de corrupção, eles procuram defender suas famílias
sem no entanto tirá-las do ambiente em que estão sendo corrompidas.
Vejam bem o que quero dizer: nossa sociedade já não tem mais nada que
mereça a nossa atenção. Os valores em voga nessa sociedade formam um
esgoto nojento e fedorento que emporcalha tudo e todos. Não há como
escapar! Você sai na rua, você vai ao médico, você compra um jornal,
você é engenheiro, ou advogado, ou motorista de ônibus, o que seja, o
que se faça, na rua ou dentro de casa, o esgoto se espalha, contamina,
agarra-se em nossas peles, transmite o seu cheiro insuportável. E é tal a
realidade disso que estou dizendo, que, estando todos contaminados,
estando todos sujos e fedorentos nas entranhas de nossos costumes e de
nossos interesses, os homens não sentem mais o fedor de si mesmos! Todos
agem, pensam, falam, com os critérios da lama e da cloaca.
A tendência que nós teríamos, seria a de querer comparar todas essas
realidades com os critérios da nossa antiga formação. Falaríamos do funk
comparando com outros tipos de música: – Ah!, na minha época não era
assim! Falaríamos das pichações, e do homossexualismo, e do nudismo nas
ruas, e do sexo desenfreado e vagabundo, do aborto e das clonagens,
sempre comparando, comparando…com o quê? Até quando?
Não, não podemos nos enganar. Não é mais possível esse tipo de
sem-vergonhice. É preciso ter a coragem de dizer, de pensar, de saber:
acabou! O mundo como nossos pais nos ensinaram já não existe mais. E se
os homens ainda votam (meu Deus, ainda se acredita na mentira da
“democracia”!!), se os políticos ainda nos governam, é por simples
reflexo dos nervos da defunta sociedade liberal e apóstata.
Outro dia me contaram mais uma vez o caso de um professor de
universidade, casado, bom pai de família. As mulheres da faculdade
avançam sobre os homens, sem querer saber se é casado, se não é; umas
dez para cada um, que falam com os homens já se encostando, já se
entregando. E a pessoa que me contava isso, dizia: “elas já perderam
tudo”. Eu procurei mostrar ao meu interlocutor que, ao contrário, essas
mulheres não perderam nada, porque não há nada mais a ser perdido.
Perder, para um católico, é considerar que as mulheres, dentro de uma
sociedade com critérios de bem e de mal, de virtudes e de vícios,
abandonaram completamente os primeiros e vivem pelos segundos. Mas não é
esse o fenômeno que assistimos. O que existe, de fato, é uma sociedade
onde o bem e o mal não se opõem, onde não há virtudes e vícios, onde
tudo é permitido, onde tudo é “bom”. De modo que essas mulheres não agem
assim por perversão delas. Não são maus elementos da boa sociedade. É a
própria sociedade que é má, que é perversa. Elas nada mais fazem do que
viver segundo os critérios desse mundo. Eis um exemplo que vem reforçar
o que dizia acima, sobre o esgoto que está pelos ares, no ar que
respiramos, nas conversas que temos, na casas como na rua.
E mais uma vez, espantados e agradecidos, é em São Paulo que vamos
encontrar a explicação desse tremendo mal, desta horrível provação que é
hoje pedida aos que querem se salvar:
«Porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares».
Vejam bem, o Apóstolo desdenha quase dos pecados pessoais, da carne e
do sangue, para nos advertir sobre um tempo em que o mal estaria
espalhado pelos ares. Que coisa impressionante! Que revelação tremenda
recebeu de Deus São Paulo.
E o que é que ele nos recomenda para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:
E o que é que ele nos recomenda para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:
«Portanto tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé, depois de ter vencido tudo».
É, portanto, uma armadura, que nos cubra dos pés à cabeça, que nos leve
à vitória total, sobre tudo, ou seja, sobre a própria sociedade erigida
pelo demônio, pelo Anticristo, para a perda e condenação dos justos.
Porque os maus, meus filhos, já estão condenados há muito tempo. O que o
diabo não suporta é que haja ainda alguns loucos resistindo e querendo o
Reino de Deus.
Que haja, ainda, alguns doidos excomungados pela nova Religião de
Vaticano II, conivente e “aberta para o mundo”, que preguem o verdadeiro
Evangelho de Cristo. Isso ele não suporta. Seu ódio mortal distila
sobre esse esgoto do mundo uma saliva fétida e corruptora, que só o
torna pior; porém, cheio de astúcias, o torna também mais enganador. E é
assim que, insistindo em dizer que o mundo ainda é o mesmo, que as
mulheres “perderam tudo”, que em outras épocas “não se ouvia funk”, e
coisas desse tipo, Satanás vai enganando os bons. E quem são os bons?
São vocês. São vocês, que querem permanecer católicos, mas querem
conviver com o mundo; que querem agradar a Deus, mas não rechaçam os
prazeres mundanos.
Que assistem à Missa verdadeira, mas acham que os protestantes são
piedosos! Que lutam contra os pecados da carne, mas deixam seus filhos
nas boates e na televisão.
E essa gente enganadora, esses cúmplices do demônio, Anticristos dessa
nova sociedade má, declaram para quem quer ouvir isso que estou aqui
denunciando.
Estando eu, numa sala de família onde alguém assistia a uma entrevista
na televisão, o entrevistado, creio que falando em francês, espécie de
artista já de idade, com uns cabelos brancos compridos, virou-se para a
câmara e deu seu recado final, sua saudação alegre, sorridente, para os
estúpidos que o admiram. Abriu os braços como quem mostra o mundo, e num
sorriso simpático repetiu três vezes, lentamente, e com um gesto cada
vez mais abrangente: Merde, merde, merde!
Que me desculpem os ouvidos pudicos. Mas diante de certas realidades,
só o palavrão pode exprimir a realidade. E ele deve ser dito, para
evitar que uma palavra mais amena nos engane sobre a gravidade da
coisa. Foi isso que ele disse, e disse bem, pois é esse o mundo que ele
prega, é essa a cultura que ele produz, é esse o fedor e a cloaca de que
eu falava acima.
E é por isso que os nossos, que os bons pais de família, não conseguem
vencer os atrativos do mundo. É por isso que eles abrem as portas de
suas casas e deixam entrar este ar tenebroso e fedorento. É porque está
já tudo coberto por esta substância, de modo que nem os bons conseguem
mais distinguir os perfumes da alma santa, da Igreja santa, da família
católica.
Mas eis o que Deus nos revela como sendo nossa atitude diante desse quadro:
«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)
«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)
No início do ano, em conversa com as famílias da Capela Nossa Senhora
da Conceição, mostrei a elas que para manter-se fiel à Fé e perseverar
na busca da salvação, diante do quadro avassalador em que se encontram
nossos filhos, era necessária uma cumplicidade voluntária entre os pais e
o padre. É preciso hoje, que os pais trabalhem em conjunto com o
sacerdote, querendo ouvir as orientações a que a moral católica nos
obriga. Querendo estudar a doutrina, querendo que seus filhos sejam
orientados, que tenham contato constante com o padre e com a Capela.
Essa cumplicidade precisa ser vivida de modo prático e eficaz, na busca
da oração, do Santo Terço dentro de casa, da fuga desse mundo
corrompido e contagiante que está carregando de roldão o que vocês têm
de mais amado, que são seus filhos. E vocês não estão conseguindo conter
a avalanche, e estão se inclinando a achar que é assim mesmo, que todo
mundo faz… e o mundo vai tendo cada dia maior presença em suas casas.
Cumplicidade significa renunciar a certas facilidades, a certos
confortos, a muita televisão, a um comportamento indecente e imoral que
se manifesta nas roupas, nas atitudes, nos gestos, no sexo precoce e
pecaminoso. Cumplicidade é impedir, sim!, impedir que seus filhos ouçam
esses funks e coisas semelhantes que só fazem arrebentar todas as forças
espirituais da alma, movendo a carne para a sensualidade e para o
pecado.
Cumplicidade significa organizar o lar de modo a que as atividades
sejam orientadas; mas para isso, é preciso perder tempo, perder muito
tempo, num esforço difícil mas necessário, organizando biblioteca e
videoteca capazes de entreter seus filhos no bem. Vejam! O que eu
entendo ser uma guerra para salvar seus filhos, é a presença da mãe
junto deles, cada dia mais necessária, justamente no momento em que elas
são cada dia mais empurradas para fora de casa, abandonando seus
filhos, que vão ser criados numa creche ou por uma empregada. A mãe é
chamada hoje, não é ao fogão e ao tanque, não senhoras! É a um trabalho
estafante, na rua, indo de livraria em livraria, de sebo em sebo,
recolhendo livros bons, que sejam formadores de valores morais;
comprando filmes que tragam algum proveito de vida e de moral para os
próprios pais e para seus filhos. O que as mães precisam fazer é
formar-se na Universidade da Família, aprendendo a contar histórias, a
brincar de roda, a inventar atividades e passeios, a ensinar música para
seus filhos. Se fosse para fazer isso como educadoras, como diretoras
de uma firma, como vendedoras de uma loja, aí elas ficariam encantadas…
mas como é dentro de casa, ou pelo menos, como é para ser aplicado
dentro de casa, elas reclamam, e querem a rua, querem o mundo…. Coisa
estranha! Estranha contradição. Dizem que amam seus filhos, mas não
querem estar a seu lado, na educação, à serviço de suas alminhas
inocentes ameaçadas de morte prematura.
Creio que este papel reservado às mães, traria outras vantagens para
seus filhos. Pois é evidente que duas ou três mães poderiam
perfeitamente se juntar e trabalhar em conjunto, revezando-se talvez nas
tardes ou manhãs livres, para juntar seus filhos em passeios e
atividades. Logo apareceria uma que sabe tocar um instrumento, e eis que
começa umas aulas de música, nessa idade delicada dos cinco ou seis
anos, em que começa a formação musical e artística.
Parece ilusório o que lhes proponho? Talvez pareça ilusório porque as
mães já não estão habituadas a esse esforço. Afinal, como é simples
apertar um botão de televisão ou computador, e eis o silêncio das
ovelhinhas instalado no lar …indo para o matadouro!
Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.
Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.
E se a objeção é o orçamento do lar, que a mãe precisa trabalhar senão
não fecham as contas no fim do mês, respondo que são poucos os casos em
que há verdadeira necessidade. O que se vê, em geral, é a busca cada vez
maior de ter, de possuir, de gastar, num vício desenfreado que vai
contra a virtude da pobreza. Diminuam as necessidades, e que os maridos
sejam mais eficazes nos seus trabalhos, pois cabe a eles a cumplicidade
de fazer o possível para que a mãe possa criar seus filhos.
Lembrem-se que os filhos não são bonecos bonitinhos que só servem para
satisfazer o orgulho e o amor-próprio dos pais, bonecos que se encostam
numa creche ou numa televisão para que não atrapalhem o resto do dia.
Ter filhos é obrigação de todo casal, e educar é carregar a Cruz de
Nosso Senhor, abandonando a vontade própria para transmitir a Fé
verdadeira, a verdade natural e sobrenatural, a moral de Deus e o amor
ao próximo.
E para completar este combate onde as mães devem ser leoas rugindo
contra o mundo devorador, onde os pais devem ser leões fortes e
trabalhadores no sustento do lar, onde a família se encontra em todas as
atividades, do ritual das refeições em comum, passando pela oração em
comum para chegar à Santa Missa, venho exortá-los, agora, a que recebam a
bênção do Sagrado Coração sobre as famílias, a Entronização no Lar do
Sagrado Coração, como sendo a retaguarda espiritual dessa guerra
tremenda e constante, onde as forças espirituais devem ser preservadas,
para que a vida natural não se perca seguindo os passos do demônio e do
Anticristo. Façam a Entronização, façam a Renovação anual, e venham
para a Capela, venham na 1ª Sexta, no 1º Sábado, receber de Nosso Senhor
o Alimento Sacramental que nos dá a força sempre viva da Fé, da
Esperança Teologal no sucesso e na Vitória, e a Caridade que é o próprio
Deus vindo dentro de nós num dom de Si mesmo, como Amor Substancial.
Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição lhes dê forças para
combater. É preciso desejar a vida eterna apaixonadamente, sem descanso.
Não esmoreçam, pois o Senhor bate, já está às portas; Ele colhe, e
queimará a erva daninha que não servir para o seu Celeiro.
Fonte: http://permanencia.org.br
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Nota de www.rainhamaria.com.br
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