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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Papa nos EUA pede "boas vibrações"

Nos EUA, papa defende ajuda a imigrantes e abolição mundial da pena de morte

Do UOL, em São Paulo
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Papa Francisco visita Cuba e EUA74 fotos

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24.set.2015 - Papa Francisco discursa em sessão do Congresso dos Estados Unidos, no Capitólio, em Washington. Atrás do pontífice estão o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara John Boehner. O pontífice faz história ao ser o primeiro líder da igreja católica a fazer um pronunciamento no local Carolyn Kaster/AP
No primeiro discurso de um pontífice na história do Congresso norte-americano, nesta quinta-feira (24), em Washington, o papa Francisco defendeu abertamente, diante dos parlamentares, a ajuda aos imigrantes e o fim da pena de morte do mundo.
Os dois temas rendem polêmica localmente; a questão da imigração de mexicanos aos EUA, por exemplo, é uma das mais debatidas pelos pré-candidatos à Presidência em 2016, principalmente após Donald Trump, líder das pesquisas entre os republicanos, afirmar que construiria um muro separando o país do México e deportaria 11 milhões de imigrantes sem documento caso fosse eleito. Ele também acusou o México de enviar estupradores e outros criminosos pela fronteira dos países vizinhos.
Já a pena de morte ainda é legal em 31 dos 50 Estados norte-americanos, representados por grande parte dos congressistas que ouviram a fala do pontífice nesta quinta.
Francisco, que nasceu na Argentina e é filho de imigrantes italianos, se referiu aos EUA como a "terra dos sonhos" antes de iniciar o trecho onde defendeu a solidariedade aos imigrantes.
"Em tempos recentes, milhares de pessoas vieram a essa terra para perseguir o sonho de construir um futuro em liberdade. Nós, pessoas desse continente, não temos medo de estrangeiros, porque um dia fomos estrangeiros", disse o papa, recebendo aplausos.
"Digo isso como um filho de imigrantes, sabendo que vários de vocês também descendem de imigrantes", completou. "Não devemos repetir os pecados e os erros do passado."
Em seguida, o papa falou da crise de refugiados no mundo, "a maior desde a Segunda Guerra Mundial", e voltou a citar a situação norte-americana.
"Nesse continente, também, milhares de pessoas são levados ao norte em busca de uma vida melhor, em busca de oportunidades. Não é o que queremos para nossas crianças? Não devemos nos ater a números, e sim vê-los como pessoas, olhar para seus rostos e ouvir suas histórias, tentando reagir da melhor maneira possível em cada situação. De uma maneira humana, justa e fraternal."
"Devemos evitar uma tentação comum nos dias de hoje: descartar tudo que se mostra problemático. Vamos lembrar da Regra de Ouro: 'Faça aos outros o que vocês querem que eles lhe façam", disse, citando uma passagem da Bíblia.

Pena de morte

Em seguida, o papa falou contra a pena de morte, aplicada em diversas nações do mundo, além de 31 dos 50 Estados norte-americanos.
"Essa convicção [de defesa da vida humana] me levou, desde o início, em defender a abolição global da pena de morte. Estou convencido que essa é a melhor maneira. Toda vida é sagrada. A sociedade pode se beneficiar da reabilitação daqueles que cometeram crimes."
Ele também falou sobre a defesa recente que bispos norte-americanos fizeram em favor da abolição da pena de morte. "Eu não apenas os apoio como encorajo todos aqueles que estão convencidos de que uma punição justa e necessária nunca deve excluir a esperança e a meta de reabilitação."

Extremismo

Antes, no começo do discurso, o papa Francisco havia alertado para o "equilíbrio delicado" entre lutar contra extremistas e preservar as liberdades religiosas.
"Sabemos que nenhuma religião está imune a formas de delírios individuais ou extremismo ideológico. Isso significa que devemos ficar especialmente atentos a qualquer tipo de fundamentalismo, seja religioso ou de qualquer outro tipo", afirmou o papa ante os congressistas.
"Um delicado equilíbrio é necessário para combater a violência cometida em nome de uma religião, uma ideologia ou um sistema econômico, enquanto também devemos salvaguardar as liberdades religiosas, intelectuais e individuais", afirmou ainda.
"Mas há outra tentação que deve ser especialmente enfrentada: o reducionismo simplista que vê apenas bom ou mau; ou, se preferirem, os justos e os pecadores. O mundo contemporâneo, com suas  feridas abertas que afetam tanto nossos irmãos e irmãs, exige que confrontemos toda forma de polizarização divida nesses dois campos."

Cuba

Principal mediador das negociações de reaproximação dos Estados Unidos e de Cuba, Francisco elogiou a "coragem e ousadia" dos dois ex-adversários de retomar o diálogo, e referiu-se à recente abertura entre Washington e seu também antigo adversário, o Irã.
"Quando países enfrentam desafios para retomar o diálogo - um diálogo que pode ter sido interrompido pelas mais legítimas razões -, novas oportunidades se abrem para todos", destacou, dias depois de visitar a ilha.
"Um bom líder político deve sempre optar por iniciar processos e não se apropriar de espaços", disse.
Em seu pronunciamento, Francisco ainda citou a figura de quatro norte-americanos considerados heróis do país: o ex-presidente Abraham Lincoln, que completa 150 anos de seu assassinato; o reverendo negro Martin Luther King, que há 50 anos liderou uma marcha em Selma pela igualdade de direitos civis; a fundadora do "Catholic Worker Movement", Dorothy Day; e o ativista Thomas Merton, que neste ano celebra o centenário de seu nascimento. 
Outros temas citados foram a defesa do meio ambiente e a crítica aos modelos econômicos atuais, baseados em exploração de recursos naturais e os quais, de acordo com Francisco, provocam situações de desigualdade, fome e pobreza.  
Após o discurso, que foi muito aplaudido em diversas ocasiões, o papa apareceu no balcão do Capitólio, onde fez uma bênção em espanhol às centenas de pessoas reunidas adiante. Como de praxe, ele pediu aos que não creem que lhe mandassem "boas vibrações". (Com agências internacionais)

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