Santo Afonso de Ligório: O pecador expulsa Deus do seu coração. O pecador sabe antecipadamente que Deus não pode ficar com o pecado; vê que pecando obriga a Deus a afastar-se
09.02.2016 -
Qui dixerunt Deo: Recede a nobis, et scientiam viarum tuarum nolumus — “Disseram a Deus: Retira-te de nós, pois não queremos conhecer os teus caminhos” (Jó 21, 14).
Sumário. O pecador sabe que Deus não
pode ficar com o pecado; vê que pecando obriga a Deus a afastar-se.
Diz-Lhe portanto, não com palavras, mas de fato: Senhor, já não podeis
ficar junto com o meu pecado e quereis partir, podeis ir-Vos embora.
Expulsando assim Deus de sua alma, deixa entrar imediatamente o demônio,
que dela toma posse. Que baixeza! Irmão meu, dize-me: praticaste tu
também tão grande vilania para com Jesus Cristo?… Terás a triste coragem
de a tornares a praticar no futuro?
Deus vem a morar numa alma que o ama; é o
que Jesus Cristo mesmo nos assegura dizendo: “Se alguém me ama,
guardará a minha palavra, e meu Pai o amará e viremos a ele e faremos
nele morada:Ad eum veniemus, et mansionem apud eum faciemus” (1).
Notemos as palavras:mansionem faciemus — “faremos morada“. Deus vem à
alma a fim de nela permanecer sempre, de sorte que nunca a deixa, a não
ser que a alma o faça sair, como diz o Concílio de Trento. — Mas,
Senhor, Vós sabeis desde já que aquele ingrato Vos expulsará em qualquer
momento: porque não partis agora? Quereis esperar que ele mesmo Vos
expulse? Deixai-o e parti antes que ele Vos faça sofrer essa grande
injúria. — Não, responde Deus, não quero retirar-me, enquanto ele mesmo
não me repelir.
Assim, quando a alma consente no pecado, diz a Deus: Senhor, apartai-Vos de mim. Dixerunt
Deo: recede a nobis (2). Não o diz vocalmente, mas de fato, como afirma
São Gregório: Dicit: Recede, non verbis, sed moribus. — O
pecador sabe antecipadamente que Deus não pode ficar com o pecado; vê
que pecando obriga a Deus a afastar-se. É como se Lhe dissesse: Já que
não podeis ficar junto com o meu pecado, já que quereis partir, podeis
retirar-Vos. E expulsando Deus de sua alma, deixa entrar imediatamente o
demônio, que dela toma posse. Pela mesma porta por onde sai Deus entra e
vem estabelecer-se o seu inimigo: Et intrantes habitant ibi (3) —
“Entrando habitam ali“.
Ao batizar-se uma criança, o padre
ordena ao demônio: Sai desta alma, espírito imundo e sede o lugar ao
Espírito Santo. Com efeito, aquela alma recebendo a graça converte-se em
templo de Deus, como diz São Paulo (4). O contrário sucede
inteiramente, quando o homem consente no pecado; então diz a Deus que
reside em sua alma: Sai de mim, ó Senhor, e cede o lugar ao demônio. É
disto exatamente que o Senhor se queixou a Santa Brígida, dizendo que é
tratado pelos pecadores como um rei expulso de seu trono, no qual vai
ser substituído por um salteador.
Não há mágoa mais sensível do que o
ver-se pago com ingratidão por pessoas amadas e favorecidas.
Consideremos portanto, como não deve ficar magoado o Coração
sensibilíssimo de Jesus Cristo em ver-se posposto a um vil demônio e
expulso brutalmente de uma alma pela qual derramou o seu preciosíssimo
Sangue; tanto mais que semelhante baixeza se repete no mundo inteiro, em
cada hora, milhares de vezes, especialmente nestes dias de carnaval. —
Meu irmão, tu ao menos compadece-te de teu aflito Senhor; dá-lhe
desagravo por freqüentes atos de amor e se no passado o tivesses
magoado, pede-lhe humildemente perdão.
Assim, meu Redentor, todas as vezes que
pequei, expulsei-Vos de minha alma e fiz tudo que Vos deveria tirar a
vida, se ainda pudésseis morrer. Eu Vos ouço perguntar-me: Quid feci
tibi, aut in quo contristavi te? responde mihi — Que mal te fiz, e em
que te desagradei, para me causares tantos desgostos? — Perguntais-me,
Senhor, que mal me fizestes? Destes-me o ser e morrestes por mim: é este
o mal que me haveis feito. Que deverei, pois, responder? Confesso que
mereço mil infernos; e é justo que a eles me condeneis. Lembrai-Vos,
porém, do amor que Vos fez morrer por mim na cruz; lembrai-vos do sangue
que por mim derramastes e tende piedade de mim.
Mas já o sei, não quereis que desespere;
ou antes avisais-me de que Vos conservais à porta do meu coração, donde
Vos bani e que nela estais batendo por meio das vossas inspirações, a
fim de novamente entrar. Gritais-me que eu abra: Aperi mihi, soror
mea (5). Sim, meu Jesus, expulso o pecado; arrependo-me de todo o meu
coração e amo-Vos sobre todas as coisas. Entrai, meu amor, está aberta a
porta; entrai e nunca mais Vos afasteis de mim. Prendei-me com os laços
do vosso amor e não consintais que me torne a separar de Vós. Não, meu
Deus, não queremos mais separar-nos; abraço-Vos, aperto-Vos ao meu
coração; dai-me a santa perseverança:Ne permittas me separari a te —
“Não permitais que me separe de Vós“. — Maria, minha Mãe, socorrei-me
sempre, rogai a Jesus por mim; alcançai-me a felicidade de nunca mais
perder a sua graça. (II 70.)
Io 14, 23.
2. Iob 21, 14.
3. Matth. 12, 45.
4. I Cor. 3, 16.
5. Cant. 5, 2
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I – Santo Afonso2. Iob 21, 14.
3. Matth. 12, 45.
4. I Cor. 3, 16.
5. Cant. 5, 2
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Bispo Teófilo de Antioquia: Os Pecados do Mundo cegam a inteligência.
Publicado em 24.11.2013
Com os
olhos do corpo, observamos o que se passa na vida e na terra;
discernimos a diferença entre a luz e a escuridão, entre o branco e o
preto, entre o feio e o belo [...]; o mesmo acontece com aquilo que o
ouvido abarca: sons agudos, graves, agradáveis. Mas também temos ouvidos
no coração e olhos na alma, sentidos que podem captar a Deus. Com efeito, Deus deixa-Se percepcionar porque aqueles que são capazes de O ver, depois de se lhes terem aberto os olhos da alma.
Todos nós
temos olhos físicos, mas alguns têm-nos velados, e não vêem a luz do
sol. Se os cegos não vêem, não é porque a luz do sol não brilhe. É a si
próprios, e aos seus olhos, que os cegos devem essa privação. O mesmo se
passa contigo: os olhos da tua alma estão velados pelos teus
pecados e as tuas más ações [...]; quando tem um pecado na alma, o homem
deixa de conseguir ver a Deus. [...]
Se quiseres, porém, podes curar-te. Confia-te
ao médico, e Ele te curará os olhos da alma e do coração. E quem é o
médico? É Deus, que cura e vivifica, por meio do Seu Verbo e da Sua
Sabedoria. Foi por meio do Verbo e da Sabedoria que Deus fez
todas as coisas [...]. Se compreenderes este facto, e se viveres uma
vida de pureza, piedade e justiça, poderás ver a Deus. Que a fé e o
temor de Deus sejam os primeiros a entrar no teu coração, para que
possas compreendê-Lo. Quando te tiveres despojado da tua condição mortal
e te tiveres revestido de imortalidade (1Cor 15, 53), verás a Deus
segundo os teus méritos, a esse Deus que te ressuscitará a carne,
tornada imortal, tal como te ressuscitará a alma. Nessa altura verás a
Deus imortal, desde que tenhas acreditado Nele já nesta vida.
Teófilo de Antioquia (-c. 186), bispo A Autólico,1, 2.7 (trad. bréviaire ; cf SC 20, p. 58 ss.)
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