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segunda-feira, 14 de março de 2016

Frei Betto já sabia

14 março, 2016

Das conversas com Frei Betto.

Por Hermes Rodrigues Nery | FratresInUnum.com
Em 1996, enquanto percorria um dos corredores da PUC-SP, vi um cartaz que anunciava um curso de grego, no convento dos dominicanos, na rua Atibaia, próximo dali. Eu não tinha suficiente informação, na época, para saber a história daquele convento (um reduto esquerdista, ninho dos TLs, onde residia Frei Betto), e inscrevi-me no curso, tendo sido, por alguns meses, aluno da Ir. Sônia de Fátima Battagin, que depois viajou como missionária para o Gabão.
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Eram duas aulas no mesmo dia, uma no começo e outra no final da manhã, ficando, portanto com um intervalo de quase uma hora e meia, em que eu ficava aguardando na biblioteca do convento. Foi lá que tomei contato, mais profundamente, com toda a literatura marxista que já grassava dentro da Igreja, nos seminários, faculdades, etc., teses de doutorado e mestrado, as obras de Gustavo Gutierrez, Joseph Comblin, Leonardo Boff et caterva.
Enquanto lia aquilo tudo, com uma certa tristeza, constatava que não tinha nada a ver com o Catecismo da Igreja Católica, era um outro conteúdo, uma deturpação, uma corrosão e um desvio de doutrina, com todos os reducionismos e equívocos que fariam da ideologização da fé um dos piores efeitos da Teologia da Libertação e do relativismo.
Como frequentei a biblioteca por alguns meses, nos intervalos das aulas de grego, Frei Betto passava por lá, conversava com quem lá estava, trocava ideias, e, em alguns momentos, conversamos sobre toda aquela literatura, a crise da Igreja pós Vaticano II, sendo ele um ardoroso defensor da democratização da Igreja, do sacerdócio feminino, do celibato opcional, etc. Ele então, de bom grado, aceitou que gravássemos as conversas, que eu pretendia transcrevê-las para estudo e publicação, com todos os questionamentos que eu desejava fazer, mesmo ainda sem ter grande conhecimento do quanto tudo aquilo destoava da sã doutrina católica.
Somente agora, vinte anos depois, revendo aquelas fitas, pude entender o que estava acontecendo, o que ocorreu nos anos 70-80-90 na vida da Igreja, especialmente no Brasil e na América Latina. E o que conversei com Frei Betto, nas conversas gravadas e informais, confirma que havia, sim, um projeto de poder regional (a Pátria Grande), como expressão do internacionalismo de esquerda, especialmente após a criação do Foro de São Paulo, em 1990. E o aparelhamento da Igreja foi fundamental para a expansão desse projeto de poder, com Lula como uma das lideranças-chaves desse projeto de poder, concebido para ser duradouro, um projeto totalitário, com a retórica da democracia como método revolucionário. O biógrafo de Lula estava tão convencido do sucesso desse projeto de poder pela capacidade de organização do PT e de sua extraordinária eficácia na captação de recursos e da mobilização das bases (das OnGs e movimentos criados para dar suporte ao PT), tudo isso possível pelo aparelhamento das instituições, da imprensa, dos meios acadêmicos, especialmente da Igreja. Disse-me que os movimentos populares (e também o PT) tinham muitos bispos e até cardeais trabalhando, em silêncio, nos bastidores, para a concretização do projeto de poder das esquerdas, dos movimentos populares, etc. E que esse aparelhamento fazia a força do PT, e o tornava quase que imbatível. E chegando ao poder (o que para ele era inevitável), fariam a revolução, dando poder aos conselhos populares, etc.
Mas o que mais me impressionou daquelas conversas, já, naquela época, foram duas convicções de Frei Beto, naquele distante ano de 1996:
  1. Eles fariam Lula Presidente da República, sem dúvida alguma, ele estava absolutamente convencido isso (estávamos ainda no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso);
  2. Eles fariam um papa latino-americano.
E dentre os bispos que estavam trabalhando para isso, eles podiam contar com D. Cláudio Hummes, na época, arcebispo de Fortaleza.

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